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Um último olhar

 

Quando se propõe o território ilhéu como campo de pesquisa, não basta ser um fotógrafo que busca contribuir para um modo de olhar e de pensar. É preciso se tornar um artista, criar uma maneira própria não apenas de fotografar e trabalhar, mas de viver, pois o artista é um meio pelo qual algo se produz.

Porém, como produzir um artista em si mesmo? Um artista é um criador. E para criar é preciso separar-se de muitas coisas: de um jeito de ler, de fotografar, de um campo de referências, de todo um conjunto de certezas que parecia nos assegurar e ao mundo. Para criar, é preciso ser afetado pelas coisas, por algo nelas, e, nesse movimento, dar lugar à criação, lugar que vai se transformando em corpo de pesquisa.

Mas não tomo este corpo como uma unidade. Quando penso em corpo de pesquisa, empenho-me para que cada parte dele possa expressar movimentos próprios que sempre estarão em relação com os movimentos de uma outra parte. Assim, seria a relação o fio condutor que atravessa um modo de perceber a pesquisa, a fotografia pós-documental, a ilha, as questões sobre as quais me proponho debruçar e outras que se apresentam no decorrer do trabalho, conectando-as. 

Mas porque então produzir um artista em si mesmo? Para ir ao encontro da ilha e seu povoamento, para criar conexões ainda imperceptíveis não apenas problematizando, através da fotografia pós-documental, a ideia estanque de sustentabilidade que a tudo explicaria e justificaria, mas principalmente para abrir caminho para uma outra ideia de sustentabilidade ambiental e subjetiva, que é aquela apoiada em agenciamentos que agem na composição, decomposição ou recomposição de constelações afetivas que sustentam as existências desde suas práticas.

Beatriz Pedrosa

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